02/12/2018
A Rede Eclesial Pan-Amazônica, promoveu nos dias 29 e 30 de novembro e 1º de dezembro de 2018, no Centro de Treinamento de Líderes, cidade de Miracema do Tocantins, o I Encontro de Povos e Comunidades das Bacias dos Rios Araguaia e Tocantins. Participaram do evento representantes da região norte do estado do Pará e Tocantins, centro oeste do estado de Goiás e Mato Grosso e nordeste do estado do Maranhão. Marcaram presença os povos indígenas Tapirapé, Gavião, Karajá, Apinajé, Suruí, Krahô, KrahôTakaywrá, Kanela do Araguaia, Xerente, Krahô-Kanela, quilombolas, quebradeiras de coco, pescadores, ribeirinhos, camponeses, gerazeiros, acampados, sem-terra, assentados e povo das cidades.
O encontro tem como objetivo apresentar as diversas realidades que ameaçam os rios Araguaia e Tocantins e os povos e comunidades que vivem as suas margens, bem como discutir meios para a preservação e enfrentamento referente a destruição e exploração da terra e das águas. Na abertura do encontro, Dom Philip Dickmans, presidente do Regional Norte 03 e bispo da Diocese de Miracema do Tocantins, afirmou que são muitos os desafios de quem mora próximo aos rios Araguaia e Tocantins, porém o encontro é de grande importância, pois a fé, esperança e a luta vão ser sempre sinal de luz na escuridão, afirmou. No final de sua fala leu a carta do Cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, em que um dos trechos afirma: “As assembleias territoriais são um lugar de estudo e discernimento do Documento Preparatório do Sínodo Pan-amazônico e ajuda a todos vocês neste objetivo, delineado pelo Papa Francisco, para encontrar novos caminhos para a evangelização na população amazônica "sobretudo dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno....” Finaliza a carta enviando a todos os participantes saudação muito cordial.
. Durante os três dias de encontro foram realizadas palestras, escutas, rodas de conversa e análise de conjuntura. Para Moema Miranda, assessora da REPAM-Brasil e uma das assessoras do encontro, olhar para a realidade e dureza é necessário para que possamos obter forças e respostas. “Ainda que o cenário de 2019 se apresente como desafiador para os povos amazônicos, principalmente as populações tradicionais, o Sínodo em 2019, é um sinal do Espírito. Temos confiança de que esse encontro acontecendo na ambiência do Sínodo, ele fortalece os mesmos princípios e os mesmos valores. E qual é a Boa Nova? É de que os povos unidos e unidos ao rio, unidos à terra, eles têm a força e a possibilidade de disputar um futuro de vida para todos nós.”
De acordo com Dom Pedro Brito, Arcebispo de Palmas no Tocantins, as ameaças sempre atinge as minorias e seus direitos, porém afirmou: “Tudo é muito sazonal, nada é definitivo, passa, há esperanças sobretudo nos valores defendidos pela igreja como comunhão, solidariedade e ecologia e o sínodo para a Amazônia é um grande Kairós”.
Dona Isabel, indígena Krahô, do município de Itacajá/TO, expressou suas preocupações referentes a preservação da terra e das águas dos rios. “Nós que somos os primeiros, somos a semente, o broto, somos desrespeitados pelo governo, mantemos o branco até hoje. Ajudamos para ficarem lá em cima, mas dão paulada em nós, fizeram a barragem no estreito. Construíram essa barragem perto dos índios, cada vez mais estão matando o nosso pai que é o rio, o rio se a gente não beber não teremos sangue. Estão levando a nossa riqueza, para quem nós vamos chorar? Quem tá no poder está contra nós. Os índios poderiam pensar: Andar de povo em povo e fazer algo para o mundo, para entenderem. Deus deixou a terra não foi pra destruir, do jeito que queremos viver a terra também precisa”.
Durante o encontro, os participantes conversaram sobre os sinais de força e resistência, preocupações, ameaças e alianças. Algumas propostas e escutas elaboradas serão integradas as escutas do Sínodo para a Amazônia que acontecerá em 2019. Uma carta aberta a sociedade foi redigida pelos participantes, em que manifestam denúncias, preocupações e compromissos com as bacias dos Rios Araguaia e Tocantins e os povos que vivem nesse território.
Igreja Ativa! Amazônia Viva!
Ir. Valdilene Neves da Cruz CSAC
Carta aberta do Encontro de Povos e Comunidades das Bacias Araguaia e Tocantins
Vozes e clamores dos participantes
Que Igreja sonhamos para a Amazônia?
- Uma Igreja parceira, para garantir o nosso território, a nossa identidade; que não abandone, seja parceira nas causas de luta para garantir a saúde, a educação, o respeito e demais direitos que temos de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros nas margens das periferias das cidades.
- Uma Igreja que socorre os povos sofridos e abandonados pelos órgãos governamentais, através dos seus agentes de pastorais, CIMI (que é como pai e mãe, que protege, acompanha, e é parceiro)
- Queremos uma Igreja que ouça o nosso grito, e veja a nossa situação de miséria, de angústia por não termos segurança, o nosso medo de perder as nossas terras, a mata, a vida.
- Uma Igreja que sente conosco o nosso sofrimento de não sermos vistos, sem que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Rebaixados, sem-terra até para enterrar os nossos mortos. Que ajude os povos que estão abandonados às margens da sociedade.
- Uma Igreja que ajude a fortalecer a nossa luta em preservar a nossa terra, a nossa água, a nossa cultura, a nossa forma de cultuar o mesmo.
- Uma Igreja que possamos confiar, que olha por nós e para nós, através dos movimentos e organismos.
- Uma Igreja que nos ajude a garantir os nossos direitos de volta, a terra, a floresta, as nossas estas.
- Uma Igreja que nos defenda do “branco” latifundiário, posseiro, grileiro, astucioso quer destruir nossas terras e matas com venenos que atingem as águas, o ar, a terra; com barragens que mudam o curso e o tempo dos rios, trazendo doenças, tirando nossa paz, causando impactos e preocupações, que antes não tínhamos.